quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Tenho de assumir a derrota ...


Pois é, não há como competir com o surf, o desporto da moda. Isto de tentar partilhar o espaço com a gente dos Morangos com Açúcar globais não é fácil. Todas as estrelas são surfistas, todos gostam de dizer que fazem surf e namorar com um ou uma surfista fica sempre bem no currículo. Parabéns: praticas o desporto da high society. Já viste as namoradas dos pilotos de F1? E do Tiger Woods? Upa upa ...
Ao contrário do Surf, no Bodyboard a gente que interessa está dentro de água. Apresento-te a Daniela Freitas, 33 anos, mãe de dois e bi-campeã mundial de Bodyboard.
Bons Tubos

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Curioso


Sinceramente, não queria que a discussão fosse por este caminho. Mas, como diz o outro, se é para a desgraça, é mesmo para a desgraça.
(Mal posso esperar para ver o que vais articular depois desta).

Esta senhora é a mais recente conquista de Mr. Sl8r (numa lista que não é apenas longa, mas também de alta qualidade).
Se arranjares um cocas ao mesmo nível, garanto-te que pego nos barbatos e quinta-feira estou lá de esponja.

Ela chama-se Bar. Bar Rafaeli. E não olhes muito.

Estás esquecido?







'Hat trick' no ano perfeito do campeão Manuel Centeno

Campeão do mundo, europeu e nacional de bodyboard. Dizer que 2006 foi um ano perfeito para Manuel Centeno é pouco e nem o próprio o sabe classificar. "Fiz o hat trick", brincou, confessando ao DN que vencer o mundial foi "um pouco mais especial": "Deu-me mais prazer devido à intensidade emotiva. Foi decidido no último heat e contou com atletas de grande qualidade."

in Diário de Notícias

A tua cabeça devia estar ali...


(...mesmo ao pé das quilhas)
Amigo Cocas
Excelente réplica. Infelizmente, isto não é um campeonato da IBA.

Ponto prévio. Já falei várias vezes com o Manuel Centeno e acho que é um tipo exemplar. Excelente atleta, bom aluno e bom carácter. Dentro de água, seja em provas ou no free-surf, é o que se costuma chamar um boa-onda.

Dito isto, não me parece de grande honestidade intelectual comparar duas realidades que, tirando o mar e as ondas, pouco têm a ver. Quando, quase disfarçadamente, referes que os euros são poucos, esqueces que esse facto não é acessório. É essencial. Por muito que te custe, não é o bodyboard que alimenta as receitas das marcas. Há 10 ou 15 anos, até eu acreditava que sim, tal o número de sapinhos (eu incluído) que chegava à praia de santalon. Tal como a realidade, porém, também evolui.

Por isso, repito, acho que não é muito correcto atirar com o ranking da IBA à cara do teu vizinho de blogue. Se te esforçasses mais um bocadinho, se calhar tinhas encontrado um português qualquer que ganhou uma prova numa modalidade qualquer, onde estavam gajos de 10 países, e que agora é campeão mundial não sei de quê.

O Tiago não fez 3 ou 4 campeonatos. Fez dezenas, ao longo de vários meses. E fê-lo ano após ano, contra os melhores de todo o mundo - e não são 10 ou 15 - são milhares. Ao menos respeita isso.

Até lá, vê lá se consegues mandar um cutback assim.

E se o Saca fosse nº 3 do MUNDO?

Estimado Quilhas


Meu caro e estimado Quilhas.

Claro que é muito mais complicado para um português chegar ao WCT do que para um Sul Africano, esse país endinheirado onde todos têm dinheiro de sobra para pranchas e replentes de tubarão.

Naturalmente que um australiano ou um americano tem outras vantagens, mas a festa que se faz a um gajo que anda há uns três anos completamente dedicado a tentar chegar à 1ª divisão é, no mínimo, um bocadinho irritante.

Imagina lá se fosse um quilhas a estar em número 3 do ranking mundial de Surf. Faziam-lhe estátuas em Ribeira d'ilhas? Estampavam t-shirts nos campeonatos? Ou baptizavam praias com o nome d'Ele?

Só para que conste:

IBA

Mens World Tour
1 Ben Player 3271
2 Amaury Laverhne 2905
3 Manuel Centeno 2556
4 Magno Oliveira 2551
5 Mark McCarthy 2523
6 Luis Villar 2500
7 Uri Valadao 2423
8 Mike Stewart 2408
9 Jeff Hubbard 2357
10 Dallas Singer 2246

Sim podes dizer, e com razão, que comparado com o WCT, o Iba Tour é um competição amadora. Mas os apoios (€€€€) também são bem menores e nem por isso o nível na água é mais baixo ou os adversários são mais fáceis de bater. A falta de euros torna o esforço ainda maior e o retorno bem menor. Achas que vão organizar um Centeno Tour?

Boas ondas

A viagem


Amigo Cocas

É bom voltar ao Fundo De Pedra e é bom saber que continuas por aqui. Já não é tão bom constatar que, ao fim de todos estes meses, continuas pouco atento ao que se passa (literalmente) por cima da tua cabeça. E o teu último contributo é o sinal mais evidente disso mesmo.

Se olhares com atenção para a lista provável de estrelas do WCT do próximo ano, facilmente poderás reparar que, excepto o Tiago Pires, todos os outros têm algo em comum: são naturais de países com vários milhões de habitantes - o mesmo é dizer com mercados mais do que apetecíveis para as principais marcas mundiais.
Podes atirar-me à cara os sul-africanos, JS incluído. Mas não vale a pena. O rapaz-maravilha é mesmo isso, uma maravilha. E todos os outros, excepcionais, apenas seguem uma tradição que começou com Shaun Thompson.

Portugal, com alguns milhares de consumidores permanentemente aflitos de dinheiro,não é, por certo, a salvação da indústria do surf mundial. Nem sequer anda perto. Por isso, que um português chegue à elite do surf, para disputar campeonatos patrocinados por essas marcas, em ondas de sonho, é extraordinário. E alcançado à custa de muito trabalho, de muitas desilusões de última hora, de muitas notas que ficaram aquém. A prova é que, ao contrário dos JS desse mundo, Tiago Pires chega ao WQS com 27 anos. Tarde, mas por mérito próprio. O que interessa se fica ou se sai? Já lá está e agora é aproveitar, e nós com ele, cada onda, cada heat, cada campeonato. No fim, logo se vê.

O mais importante não é o destino, amigo Cocas, é mesmo a viagem.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Até é bom rapaz, mas ...

Até é bom rapaz, mas acho que vai ter um ano muito doloroso. Saca, aka Tiago Pires, vai tentar a sorte no WCT.



Eu, que até simpatizo com a figura, acho que vem recambiado para o WQS assim que a época acabar.

Porquê?

~

Aceitam-se apostas.

Bons tubos

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

No canal


Nestes anos todos que levo de mar, não me lembro de uma única vez ter ouvido ou falado de uma remada clássica até ao pico. É verdade que há histórias fabulosas de tipos que conseguem chegar ao pico em dias impossíveis, mergulho após mergulho, indiferentes aos dois ou três metros que rebentam com barulho na praia. E também dos outros, que voltam para trás e ficam na areia a ver os amigos. Mais ou menos vezes, já nos aconteceu a todos as duas coisas. Sem dramas, há sempre uma próxima vez.
Mas não é disso que quero falar. A discussão de hoje é sobre aqueles instantes entre dois momentos perfeitos: uma onda acabada e a seguinte. Talvez por isso, por ser ao mesmo tempo um fim e um início, ninguém se dê ao trabalho de discutir a remada de volta ao pico. Por isso e também por, normalmente, o protagonista desses instantes ser sempre outro tipo qualquer.
Por mim, chega. Confesso que já passei bons momentos a remar de volta pelo canal e a ver algum sortudo dropar uma onda e meter para dentro ou a atirar-se a um lip sem medir as consequências. E, se fico chateado por não ser eu (embora tenha acabado de o fazer e me prepare para repetir a dose), fico feliz pelo sortudo.
Talvez seja a melhor resposta à pergunta "O que fazer entre dois momentos de felicidade?"
Ver a felicidade dos outros, digo eu

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Rituais (no regresso)




Há rituais que mais ninguém percebe. Porque raio alguém, às sete horas de uma manhã de Inverno, troca o conforto da cama pelo vento gelado de uma praia? Porque raio, quando o frio leva o mundo a ficar na areia, há sempre alguém que se lança mar adentro? Então e andar descalço em alcatrão quente? E ir à procura de ondas em montes de pedras infestados de ouriços? Há mesmo rituais que mais ninguém percebe.

Hoje ao almoço, numa conversa com um camarada acabadinho de sobreviver à sua primeira experiência nas ondas, lembrei-me de um momento que me marcou a vida. Num dia de temporal, a inexperiência fez com que me vestisse a rigor – de fato de neoprene e pés-de-pato – para ir visitar a minha amiga Baía. Nem tinha tinha ido ver como estava o mar e depois de um gelada caminhada até ao areal, tive o meu primeiro choque: além das ondas me parecerem gigantescas, o mar estava zangado. Espumas enormes iam desfazendo os poucos surfistas e bodyboarders presentes e não havia um centímetro onde a água não estivesse revolta. “Vai correr muito mal”, foi a primeira coisa que me passou pela cabeça.

Aos 16 anos, julgava-me indestrutível. O corpo era elástico, a moral estava alta e andava desejoso de provar aos surfistas, aqueles que já tinham barba, que até era um puto rijo. Não havia como fugir: tinha mesmo de me fazer à água. Depois de um aquecimento, estranhamente prolongado, lá fui. Lembro-me de remar e mergulhar, de ser metido na máquina de lavar roupa e de ser empurrado para a areia. Lembro-me de voltar a tentar, tentar, e tentar mais algumas vezes. Não sei quanto tempo demorei a passar a rebentação, mas lembro-me de chegar às traseiras das espumas mutantes. Não esqueço a descarga de adrenalina que senti assim que me apercebi que tinha sobrevivido. Não esqueço as saudações de respeito que os surfistas barbudos me lançaram, nem a vertigem da primeira onda. Mais do que tudo isso, não esqueço a primeira vez que parei – bem atrás da zona de impacto – para me sentar na minha prancha. Nesse momento, apercebi-me que estava sozinho e rodeado por dezenas de quilómetros quadrados de toneladas de água zangada. Não sou especialmente corajoso, nem tão pouco sou inconsciente, mas não tive medo. Senti-me pequenino e fiquei parado durante largos minutos. Só queria ver.
Nesse dia, ganhei respeito ao mar, mas deixei de o temer. Até hoje estou convencido que é na água salgada que estou mais seguro e nos últimos onze anos, ganhei barba e nunca deixei de a visitar regularmente. Aprendi a apaixonar-me pelas madrugadas de Sábado, pela a areia gelada, pelo cheiro a sal que trago para casa, pela água gelada que entra pelo colarinho do fato e até pela primeira espuma que me molha a cara. Apaixonei-me pelos rituais que ninguém percebe, mas que justificam todos os lugares comuns – que têm tanto de verdadeiros como de ridículos – que os surfistas dos areais repetem às meninas. Já fiz ondas de ressaca, constipado, com a digestão por fazer, em vagas de frio e, recentemente, até tenho ido ao mar com um joelho em vésperas de ir à faca. Tenho é de ir. Sempre.

A conversa de almoço e a (forte) possibilidade de ter de passar o próximo fim-de-semana a seco, fizeram-me chegar a uma conclusão: vou ter de comprar uma canoa. Quando for velhinho, com a barba branca, carregado de reumático e com os pulmões fodidos de tantos anos a fumar, dificilmente vou aguentar passar a rebentação com uma prancha de Bodyboard. Como não sobrevivo sem água salgada, o melhor é começar a poupar.
p.s: Este é o regresso à actividade de um blog que nunca chegou a fazer um grande take-off. Vamos lá ver se é desta