terça-feira, 1 de julho de 2008

A alma da coisa

Vivem-se tempos duros. Não é pelo preço do gasóleo, pela Euribor ou pela equipa merdosa que o meu Benfica está a escolher, tão pouco é pelo excesso de trânsito ou pelo absurdo preço do estacionamento em Lisboa. É a falta de ondas que me tem atormentado. Quando há mar, não posso ir, quando posso ir, não há mar e, a última vez, havia mar, eu podia ir e o Esponja decidiu ficar com os "cornos na palha". Definitivamente, não ando são bons tempos. Tal como na água, espero tranquilamente por melhores tempos.

Bem sei que tempo passado fora de água tem os seus custos. As manobras emperram, a resistência física diminui e até a disposição piora. É triste passar um mês ou dois sem ir à àgua e depois, quando chega a altura de matar as saudades, falhar o timming para escavacar um lip, para conseguir sair de um tubo ou para completar o mais rudimentar dos 360º. Haverá alguma coisa mais desesperante que falhar um 360º? Há. Dar por mim a pensar em bater com a cabeça na areia, ser atropelado por um surfista de quilhas afiadas ou discutir prioridades com um local atrasado mental como boas recordações é bem mais irritante que qualquer manobra falhada.

Tenho saudades de surfar com amigos, entre gargalhadas piadas, sol e apostas de bivalves. Sem preocupações de quem surfa mais, se há alguém a fazer comentários ao estilo de surf ou a fazer comparações com os restantes "irmãos" na água. A Alma, a peça mais importante do equipamente de um bodyboarder, tem de ser esta. O grave, em estar mais de um mês a seco, não é ficar a surfar pior, mas sim, simplesmente, não surfar.

Já surfei bem mais do que surfo hoje. Era puto, de borracha, na faculdade não tinha faltas e a gasolina até era bem mais barata, mas não era tão bom como sou hoje. Vivia obcecado com manobras, em surfar a maior onda do dia e até passei por uma fase em que era facilmente irritável. Nessa altura, quase desisti do Bodyboard, mas com o tempo aprendi. O Quilhas diz-me, citando um primo qualquer, que o melhor surfista do mundo é o que mais se diverte dentro de água. Hoje, estou certamente no Top IBA e quanto mais tempo passo fora de água, melhor fico.

Bora Pinheiro ...




Bons tubos

1 comentário:

hm disse...

é uma dicotomia interessante mas sem relação entre si, o prazer que tiramos da coisa e a maneira como a fazemos. Basta olhar os miudos.
Ja fiz paredes bem mais saborosas que muitos 360.