sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O espírito da coisa

Amanhã é dia de ondas. Tenho o joelho arruinado. Vai estar off-shore até ao 12h. Está frio. Quero estalar uns lips. Vai ser duro acordar de madrugada. Quero andar de carrosel. Quero ondas. Será que saco um tubo?

Acho que estamos a perder a alma. Seja em pé ou deitado, vejo cada vez menos surfistas dentro de água. Não há gritos de incentivo a desconhecidos, ninguém descontrai, ninguém se limita a aproveitar os passeios inesquecíveis que as ondas nos podem dar. A moda deixou de ser elogiar o mar, passou a ser desfazê-lo: está pequeno, não tem força, está muita gente, ... E o que dizer quando, nesses dias, chega o set e há sempre uma onda disponível para nos dar boleia? São surfistas? Ou será gente que gosta da imagem de chegar à praia com a prancha, de dizer que faz Surf e que é apaixonado por tubos?

Tenho saudades de ver gente sentada a ver os outros surfar, tenho saudades das saudações entre surfistas que não tinham vergonha de assumir que estavam perto do seu limite, tenho saudades de ver sorrisos dentro de água. Das duas uma: ou anda tudo a tentar ser o Jordy Smith e o o Ryan Hardy, ou o espírito da coisa está flat.

Por mim, amanhã vou de colchão...



Bons tubos

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Sir Mike

Entre Bodyboard e Bodysurf tem mais títulos em Pipeline que Kelly Slater e Andy Irons juntos. Fosse a comunidade de Bodyboard dada a formalismos e já teria sido armado Cavaleiro.

Enquanto o estatuto não é oficializado, fica a satistação de ter sido homenageado na cerimónia de abertura do Eddie Aikau - evento pago pela marca que, provavelmente, mais faz para apagar o Bodyboard - por, num dia em que Pipeline lançava bombas com seis metros, ter salvo um Quilhas sem ajuda e sem a presença de jet skis na água.

"I remember this day being one of the best second reef pipe days in quite some time, as it was a big and quite consistent west swell. After a great day of waves I came in late that afternoon. After getting back to the house I was staying at I was relaxing and saw a big set. A few people got swept down the beach. The rip was especially strong due to the large west swell and didn't break up between the Pupukea and Ehukai breaks as it mostly does. Two surfers made it to shore but the other didn't make it in. Soon he was waiving his arm in a really bad place towards the inside of Pupukea, which was very heavy. Unfortunately the guards had left. After surfing second reef that day I felt pretty confident that I could get out to this guy, and at least handle dunking waves if I needed to. I also felt that with fins and a bodyboard I was probably best suited to retrieve this person. It was getting late and the victim was quite a ways out and I was concerned that I would loose him once I got into the surf. After calling 911 I instructed my wife to walk in front of where he was with a large white towel so I could at least try to line up with him. When I reached the surfer he was panicked, very drained but conscious and I cautiously approached and tried to calm him down. Some joking around and light encouraging words seemed to work. I gave him my board and put my leash onto him so I wouldn't loose him. We started to head outward for clear water as I did not want to try to go in through the shore break in this area. He seemed to have caught his breath but unfortunately sets started to pump and were now peaking up and breaking on the outside of Pupukea. This is when I realized putting the leash on him might not have been the best idea. I told him I will try to dunk the board and to wait for my cue and try to dive as deep as he could. We got under some of it but pretty much got worked. I then took the leash off him and gave him my board and told him to wait again until I gave him the cue to dive deeper. He made it pretty cleanly although I got pushed back. I quickly tried to paddle out to him and coach him through the process again. This went on for a couple more waves and my distance from him was widening. Had the sets continued I might have lost him, but fortunately they subsided. I got back to him and, gave him back my board again and attached my leash to my foot so that I could swim and pull him in towards gums. My plan was to reattach the leash once I got him into the shore break at gums. Fortunately this is about when the ski showed up."


Ladies and gentleman, Sir Mike Stewart.








Enjoy

domingo, 16 de dezembro de 2007

Bodyboard com letra GIGANTE




Quando escrevo estas palavras ainda tenho a pele vermelha do sol e os sapatos cheios de areia de Praia do Norte. Mas mais do que isso, tenho a memória cheia de imagens e histórias que, sei, vou contar aos meus filhos e, se lá chegar, aos meus netos.

Hoje assisti a uma das mais inacreditáveis demonstrações de coragem...não, de loucura, alguma vez levada a cabo desde que o ingrato D. Afonso Henriques bateu na mãe e fundou este canto ao pé do mar.

E por falar em mar, que MAR, senhores, que MAR. É certo que ainda sou novato nas andanças das ondas, mas há anos que sou um amador interessado, e posso dizer que só em vídeos ou revistas vi coisas aproximadas com as montanhas de água que açoitaram hoje a Praia do Norte mais os malucos que se atiraram à insanidade que foi o 3º Special Edition da Nazaré.

Foi a segunda vez que fui à Praia do Norte, mas apesar de ter poucas referências, percebia-se que as ondas, perdão, as vagas eram grandes. Muito grandes.

Todavia, foi só quando o louco, o insano, o doido que devia estar internado, Luís "Porkito" Pereira se mandou de uma daquelas montanhas abaixo é que nos apercebemos do tamanho dos animais. Qualquer coisa entre os 5 e os 7 metros.

E, meus amigos, se a medição não é rigorosa, devo dizer que naquele disparate de mar, mais metro menos metro não ofendia ninguém. Porque houve sets que, arrisco, batiam nos 8.

Se acham que estou a exagerar, bem...perguntem a quem lá esteve.

Porkito, ou senhor Porco, foi lá. Mas os outros loucos também, e, entre eles, um puto meio-francês meio-extraterrestre chamado Pierre Louis-Costes. Se o Porkito surpreendeu pela forma insana coomo dropou os primeiros Everestes de água, o puto que parecia surfar num OVNI, impressionou pela linha de onda, pela classe, pelo arrojo com que se mandou a um enorme "reverse air" com um Grand Canyon de nada por baixo, logo a abrir a conversa.

Até quando passou mal, Pierre impressionou. O extraterrestre partiu o "chop" (cenário normal que tocou a muitos naquele mar)e esteve cerca de 10 minutos (que pareceram uma eternidade) a levar com alguns dos piores sets do dia na cabeça.

Houve burburinho na praia e chegou a correr a hipótese trágica de a vedeta morrer na Nazaré. A moto de água não conseguia, sequer, aproximar-se da zona onde o miúdo estava e temeu-se, mesmo, o pior.

Mas eis que o puto desata a nadar no meio da espumaça e turbulência gigantes, dá as últimas braçadas de costas e sai da água com a mesma expressão desassombrada com que entrou naquele mar de Inferno.

Saiu, traindo apenas algum desagrado pelo facto de não ter sido socorrido.
Mas parecia apenas incomodado, como se não lhe tivessem passado o saleiro à mesa ou não lhe respondessem a um "bonjour" na rua.

Caminhou tranquilo para a tenda e perante os aplausos da turba (que momentos antes quase sustinha a respiração com ele, como em aflita solidariedade), lançou um olhar que só posso descrever como "majestoso", sorriu e tocou na testa agradecendo.
Classe. Pura classe.

Mas, amigos, a grande estrela do dia foi mesmo o Mar. O mar que nos alimenta, que nos castiga, que nos apaixona, o mar a que estamos ligados. Foi o mar a estrela. Um Mar em letra grande.

Hoje assisti a História do Desporto. E se vi mar com letra grande, também vi Bodyboard com letra GIGANTE.

Nota: a foto é do Cocas e é uma amostra(zinha)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Pés de barro...como os homens


Mark Occhilupo. Se trabalhasse em Hollywood nunca passaria de actor secundário em filmes série B. Com uma cara daquelas, de sorriso em que o maxilar inferior parece sobrepor-se (ou subpor-se para ser mais preciso) ao superior, um corpo baixo e maciço como um pugilista...nunca seria estrela.

E é curioso que no mundo do surf profissional, Occy destoa das estrelas, dos Slaters, dos Irons, dos Currens, dos Carrols, tanto como um buldogue numa corrida de galgos.

Admiro Occy. O homem ainda surfa como no tempo em que o surf era de linhas definidas, rasgadas, violentas, como pinceladas furiosas de um artista maldito (Não me esqueço de Fanning, mas é diferente...). Do tempo em que os surfistas gozavam com os saltos do bodyboard e mantinham-se irredutíveis na sua linha.

(Agora tentam imitar as manobras aéreas do Bodyboard e continuam a gozar. Não percebo, mas isso é outra história)

O homem teve glória, teve queda, teve doença, álcool, drogas, e glória novamente, com títulos e tudo. Não que os artistas, os heróis, precisem de títulos, mas os "outros" acham piada.

Occy é um touro, um ídolo com pés de barro. Do mesmo barro de que Adão foi moldado (Na verdade acho que foi feito de areia molhada e sal, mas enfim...) Occy é humano e vai retirar-se. Diz que não compete mais, que acabaram os tempos de circo deste palhaço trágico. Temperamental, violento, benigno. Como o mar.

Daqui a uns tempos o Slater também se vai embora. É pena. Mas vou ter saudades mesmo é do Occy. É que Slater é perfeito e Occy... Occy é de areia molhada e sal. Como os homens.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Rana temporaria II (O salto evolutivo)


O sapo velho (ao centro na foto, para os mais distraídos) à procura da felicidade.

Rana temporaria


(Não, não é um nome do Havai)

Eu nem queria



Dizem que há imagens que valem por mil palavras. Tenho dúvidas, mas neste caso ... Para quem julga que o Quilhas é um gajo porreiro, deixo um aviso: é puro engano. Tem muitos traumas escondidos e isso leva-o aos comportamentos desviantes que, quem lida com ele diariamente, lhe conhece.

Cresceu num meio formatado e com poucas letras. O Surf é para homens, o Bodyboard para meninas. As piadas dos bípedes, das esponjinhas, dos sapos, alimentaram-no durante os anos de liceu e garantiram-lhe, diz ele, algumas namoradas. O problema foi quando o Acne desapareceu. Começou a olhar para ondas grandes e quem lá estava? Bodyboarders. Começou a ver saltos pouco recomendáveis para quem, como o Quilhas, tem problemas nas costas e quem os dava? Bodyboarders. Começou a contar tubos de dez segundos e quem saia a rir? Bodyboarders. A confusão instalou-se na sua cabecinha. "Então, mas afinal os homens não são os do Surf? Então e só fazem marrecas?", até hoje procura as respostas.

Se eu vou comprar um Longboard? Provavelmente. Acho que o Surf bípede é o desporto ideal para quem não quer emoções fortes, para quem faz ondas pequenas e quem tem como maior objectivo subir e descer uma parede de 0,02m. Não estou a ficar novo e preciso de encontrar um plano de reforma ou uma alternativa para quando o mar está perfeito para o Quilhas: 0,20m, Off-shore, no Campo de tiro


Bons Tubos

Esperar


Aqui estamos, à espera do contra-ataque...
Eu, o Keith Malloy, a Belinda Baggs e mais uns tantos.

A história e o poema

Quer parecer-me que o batráquio mais novo está a preparar um golpe de Sapo. Levado pela mão do batráquio residente para as primeiras aventuras aquáticas, eis que o girino lhe toma o gosto. Não leva muito tempo a que se transforme em sapo jovem, de ambição desmedida e de olho gordo no rei da poça. O sapo velho, acometido de lesões nos membros inferiores, indispensáveis para saltar e que tanto gosta de agitar quando salta numa onda, olha desconfiado para o jovem. Sentado na sua folha, espera há anos que uma princesa apareça e, com um beijo, o salve para sempre.

Só que nada acontece. Um dia, contudo, a tal princesa aparece, prometendo-lhe não um beijo, mas uma prancha. O batráquio novo nem sonha com a traição, mas o sapo velho vê ali a derradeira hipótese de fintar o destino (mesmo estando aleijado). Já se imagina coberto de glória, longe da poça e, acima de tudo, de pé em cima de uma prancha. Mas, Ò Destino Cruel, a princesa, assustada com o entusiasmo do sapo, assusta-se e desaparece, levando com ela a prancha e o bilhete para uma vida melhor. O sapo velho chora e as suas lágrimas enchem um pouco mais a poça.

Nessa tarde, já com o coração destroçado, o batráquio velho nem sonha com o golpe que está para vir. O sapito mais novo, aproveitando a ausência do seu senhor, lançou-se ao lago, cheio de garra, e alguém registou as suas façanhas. Com as fotos na mão, correu a mostrá-las ao mestre. E o mestre, mal disfarçando a raiva, elogiou-o e garantiu que iria publicá-las no pasquim do lago, para que todos os sapinhos, e as pessoas também, as pudessem contemplar. Mentiroso, porque publicou apenas uma. Mas antes, o sapo velho decidiu destilar o veneno que lhe corre nas veias, atacando alguns bravos homens que se fizeram ao mar no último fim-de-semana, a Sul de Lisboa. Acredito que, visto da poça, tudo pareça tranquilo. O sapo velho também sabe que sim e, para se redimir, tentou anunciar a lista de bravos homens que vão enfrentar, assim Neptuno o entenda, as montanhas de água no Havai.

Para o sapo velho e para o sapito mais novo, encontrei este poema. Espero que gostem.

O Esponja está um homenzinho



Bons Tubos

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Eddi Aikau

A Quicksilver divulgou a lista para o Eddie Aikau Memorial. 28 Bravos vão estar, entre 1 de Dezembro e 28 de Fevereiro, prontos a entrar em ondas pouco recomendáveis a cardíacos.

Os Bravos;

1. Andy Irons (Hawaii) 1. Darrick Doerner (Hawaii)
2. Brian Keaulana (Hawai) 2. Chava Greenlee (Hawaii) Aikau Pick
3. Brock Little (Hawaii) 3. Kalani Chapman (Hawaii)
4. Bruce Irons (Hawaii) 4. Pancho Sullivan (Hawaii)
5. Carlos Burle (Brazil) ** 5. Taylor Knox (California)
6. Clyde Aikau (Hawaii) 6. Reef McIntosh (Hawaii)
7. Darryl Virostko (California) 7. Tony Moniz (Hawaii)
8. Greg Long (California) 8. Garrett McNamara (Hawaii)
9. Ibon Amatriain (Spain) ** 9. Ross Williams (Hawaii)
10. Jamie O'Brien (Hawaii) 10. Dave Wassel (Hawaii)
11. Jamie Sterling (Hawaii) 11. Ian Walsh (Hawaii)
12. Keone Downing (Hawaii) 12. Braden Dias (Hawaii)
13. Jason Ribbink (South Africa) ** 13. Myles Padaca (Hawaii)
14. Kelly Slater (Florida) 14. Anthony Tashnick (California)
15. Makua Rothman (Hawaii) 15. Kala Alexander (Hawaii)
16. Mark Healey (Hawaii) 16. Keoni Watson (Hawaii)
17. Michael Ho (Hawaii) 17. Derek Ho (Hawaii)
18. Noah Johnson (Hawaii) 18. Tom Curren (California)
19. Paul Paterson (Australia) 19. Nathan Fletcher (California)
20. Peter Mel (California) 20. Danny Fuller (Hawaii)
21. Ross Clarke-Jones (Australia) 21. Dustin Barca (Hawaii)
22. Rusty Keaulana (Hawaii) 22. Koby Abberton (Australia)
23. Shane Dorian (Hawaii) 23. Laurie Towner (Australia)
24. Sunny Garcia (Hawaii) 24. Manoa Drollet (Tahiti)
25. Takayuki Wakita (Japan) ** HONORARY INVITEES:
26. Titus Kinimaka (Hawaii) Mark Foo (Hawaii)
27. Tom Carroll (Australia) Todd Chesser (Hawaii)
28. Tony Ray (Australia) Tiger Espere (Hawaii)
Jay Moriarity (California)

Um DEZ.





Bons tubos

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Quem não é para cagarelas ...

Já dizia a minha avó: Quem não é para cagarelas não se mete n'elas. Um clube de Surf ali da zona de Sesimbra decidiu aproveitar o fim-de-semana gigantesco para organizar um campeonato de ondas grandes. Tinham tudo: swell, apoios e 16 candidatos a big wave surfers. É aqui que começa a piada. Primeiro só apareceram 7 corajosos e os lugares do pódio foram entregues aos únicos que conseguiram descer uma onda. Os outros nem conseguiram passar a rebentação e até houve quem fugisse para um monte de pedras a 500 metros ao lado da praia.

Se eu entrava? Nem pensar nisso. Se me fartava de rir ao ver 7 meninos armados em heróis a tentar fazer surf em ondas grandes? Certamente. Já vos lembrei da frase da minha avó?

A SIC falou de ondas grandes e de uma sessão de tow in. Parece que a primeira paragem dos radicais foi, às sete da manhã de Domingo, na Praia do Norte. Aí, meus caros, os sets tinham mais de dez metros e o melhor remédio foi descer até ao spot (muito pouco) secreto na zona Oeste nacional. Se são Grandes? São sim senhor. Se eu entrava? Nem pensar nisso é bom. Respirar é uma daquelas coisas que prezo. Se é ridículo fazer tow in em ondas daquelas? Claro. Se o jornalista que fez a peça é incompetente? Claro. Então, não seria mais notícia contar que no mesmo local estavam dois bodyboarders a apanhar as ondas "a braço"?

Uma verdadeira onda para heróis




Bons Tubos