quinta-feira, 25 de outubro de 2007

No canal


Nestes anos todos que levo de mar, não me lembro de uma única vez ter ouvido ou falado de uma remada clássica até ao pico. É verdade que há histórias fabulosas de tipos que conseguem chegar ao pico em dias impossíveis, mergulho após mergulho, indiferentes aos dois ou três metros que rebentam com barulho na praia. E também dos outros, que voltam para trás e ficam na areia a ver os amigos. Mais ou menos vezes, já nos aconteceu a todos as duas coisas. Sem dramas, há sempre uma próxima vez.
Mas não é disso que quero falar. A discussão de hoje é sobre aqueles instantes entre dois momentos perfeitos: uma onda acabada e a seguinte. Talvez por isso, por ser ao mesmo tempo um fim e um início, ninguém se dê ao trabalho de discutir a remada de volta ao pico. Por isso e também por, normalmente, o protagonista desses instantes ser sempre outro tipo qualquer.
Por mim, chega. Confesso que já passei bons momentos a remar de volta pelo canal e a ver algum sortudo dropar uma onda e meter para dentro ou a atirar-se a um lip sem medir as consequências. E, se fico chateado por não ser eu (embora tenha acabado de o fazer e me prepare para repetir a dose), fico feliz pelo sortudo.
Talvez seja a melhor resposta à pergunta "O que fazer entre dois momentos de felicidade?"
Ver a felicidade dos outros, digo eu

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