sábado, 27 de setembro de 2008

Há sempre mais uma onda




Para os leitores deste espaço que ainda não perceberam sou aquilo que o meu amigo XXX (Cocas aqui neste fórum) chama, entre outras coisas menos afectuosas, um "rookie".

É que ao contrário do meu amigo, não tive a sorte de ter "Paitrocínio" para comprar material quando, aos 15 anos, me apaixonei pela primeira vez pelo bodyboard, nem casa perto da praia.

É certo que lutei como pude para arranjar o dinheiro. Dois Verões a ser explorado numa padaria a receber pouco mais que metade do ordenado mínimo nacional sem horas extraordinárias (e se as fazia). Ora, estamos a falar de uma pré-hostória em que o ordenado mínimo nacional era à volta de quarenta e poucos contos e já havia pranchas a 50 contos (BZ Diamond). A clássica Mach 7 era qualquer coisa como 30 contos. (Tradução 250 e 150 euros, respectivamente). Ah, e pés de pato eram os Churchill Makapuu e os Redley. A 12 contos e oito contos respectivamente (60 e 40 euros...)

Contas feitas, nunca consegui reunir o material. E passados dois anos, desisti. Não tinha carro, não tinha companhia para ir para praia...enfim, desculpas, mas a verdade é que para paixão de adolescência dois anos não é prazo que se possa desprezar.

Foi preciso esperar 15 anos e um acidente para reencontrar o bodyboard. Tudo por causa de um estagiário tímido e despistado, acabadinho de sair da faculdade que tentava dar os primeiros passos na profissão do pai, e logo no meu pasquim.

Um dia, puxei o puto para o lado, expliquei-lhe uma ou duas coisas acerca de como funcionava aquele manicómio e mais alguns truques. No fim, ficámos amigos. Mas o que selou a amizade foi uma conversa em que ele me disse que fazia bodyboard.

Aquilo fez soar uma campainha que estava enterrada lá no fundo. Bodyboard? Ai é? Muita coisa tinha mudado naqueles 15 anos. Já tinha carro, dinheiro, e agora até tinha um "professor".

Entrei por uma loja adentro, a pior possível (pista: tem o nome de uma célebre região de ondas portuguesa) e de uma vez comprei todo o pior material possível. Mas estava feito.

De repente, estava em Peniche, onde o meu amigo tinha casa, e estava na água a realizar o meu sonho de puto.

Agora, preparo-me para varar o meu terceiro Inverno. Aprendi a fazer uns 360º manhosos e já consegui bater um par de vezes com categoria num lip. Ainda sou um bocado marrequeiro (ainda não passei de metro e meio em São João da Caparica) mas já sei que nunca mais vou largar "isto". Talvez daqui a uns anos tenha de aprender a surfar em longboard, mas as ondas, essas, nunca mais as vou largar.

Agora, daqui a umas horas, preparo-me para outra estreia: mais uma vez, pela mão do meu amigo vou surfar na Praia do Norte. Já lá estive um par de vezes como espectador, uma delas naquele épico Special Edition do ano passado. Amanhã, como marrequeiro que sou, espero fazer umas de metro e ficar feliz. Afinal, metro na Praia do Norte deve estar, esperemos, no meu limite...

Encontrei um pedaço da minha adolescência e estou cheio de vida, viciado no mar e neste fantástico desporto. E tudo graças ao meu amigo. Bendita a hora em que o puxei para o lado para lhe ensinar como se sobrevivia naquele pasquim. Em troca, ele deu-me um mundo e um irmão.

Enfim, lamechices à parte, desejem-me sorte para daqui a bocado. Afinal, vou escrever mais um capítulo desta história.

2 comentários:

TL disse...

Fantástica a tua história. Acho que todos temos uma para contar. A minha é um pouco diferente.
Comecei jovem, mas na idade adulta. Foi um verão com um amigo, onde experimentamos umas ondas na Costa. Comprei uma BZ Azul em 2ª mao e mais tarde uma Manta Mirage, por 39 Cts (nova).
Trabalhava (part time), estudava e surfava, grandes tempos. Depois o inicio do declinio, agora com um trabalho fulltime, só dava aos fds.
Qd chegou o 1º filho, ainda dava alguns fds. Agora com o 2º filho e ainda com outros projectos próprios pelo meio, praticamente só nas férias.

O bichinho está cá e aguardo por um futuro com mais tempo.

Anónimo disse...

Meu caro, percebo-te perfeitamente. Hoje em dia, estou a aproveitar a minha nova adolescência em versão melhorada, já que como só trabalho à tarde e noite, tenho sempre as manhãs livres para surfar. Isso mais folgas durante a semana dá para ir às ondas três a quatro vezes por semana, haja mar para isso.

O bichinho nunca morre, esperemos que arranjes tempo e, quem sabe, até partilhemos umas.

Abraço