segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Underground

Em fim-de-semana de visita à Praia do Norte - é pena que os o locais atrasados mentais existam em todo o lado - acabei por perceber o verdadeiro estatuto do nosso desporto. Na internet, os surfistas discutem a transmissão em directo das provas da ASP e a falta de dinheiro dos atletas de top. A discussão, próxima de parecer ofensiva, é estéril, mas mostra bem o nível a que o desporto chegou. Querem ser um desporto de mainstream e estão muito perto de o conseguir. A mim, parece-me triste.
No Bodyboard não há dinheiro para organizar campeonatos do mundo, há atletas de topo que desistem por não terem como sustentar a família e todos os anos só dois ou três conseguem patrocínios para lutar pelo grande título. A Rolling Stone, citada no DVD There is no i (Waldron Bros.), diz que é "one of the more underground sports of modern age".

Quem vê o filme, fica descansado. Onde interessa, no mar, o nível está alto. Seja nos picos australianos ou os putos de borracha experts na bomba da Nazaré - já disse que alguns dos locais são atrasados mentais? - todos os dias há quem entre no mar com uma tábua em PP. Antes Underground que fazer parte de uma tribo de vendedores de óculos de sol.



Bons Tubos

sábado, 27 de setembro de 2008

Há sempre mais uma onda




Para os leitores deste espaço que ainda não perceberam sou aquilo que o meu amigo XXX (Cocas aqui neste fórum) chama, entre outras coisas menos afectuosas, um "rookie".

É que ao contrário do meu amigo, não tive a sorte de ter "Paitrocínio" para comprar material quando, aos 15 anos, me apaixonei pela primeira vez pelo bodyboard, nem casa perto da praia.

É certo que lutei como pude para arranjar o dinheiro. Dois Verões a ser explorado numa padaria a receber pouco mais que metade do ordenado mínimo nacional sem horas extraordinárias (e se as fazia). Ora, estamos a falar de uma pré-hostória em que o ordenado mínimo nacional era à volta de quarenta e poucos contos e já havia pranchas a 50 contos (BZ Diamond). A clássica Mach 7 era qualquer coisa como 30 contos. (Tradução 250 e 150 euros, respectivamente). Ah, e pés de pato eram os Churchill Makapuu e os Redley. A 12 contos e oito contos respectivamente (60 e 40 euros...)

Contas feitas, nunca consegui reunir o material. E passados dois anos, desisti. Não tinha carro, não tinha companhia para ir para praia...enfim, desculpas, mas a verdade é que para paixão de adolescência dois anos não é prazo que se possa desprezar.

Foi preciso esperar 15 anos e um acidente para reencontrar o bodyboard. Tudo por causa de um estagiário tímido e despistado, acabadinho de sair da faculdade que tentava dar os primeiros passos na profissão do pai, e logo no meu pasquim.

Um dia, puxei o puto para o lado, expliquei-lhe uma ou duas coisas acerca de como funcionava aquele manicómio e mais alguns truques. No fim, ficámos amigos. Mas o que selou a amizade foi uma conversa em que ele me disse que fazia bodyboard.

Aquilo fez soar uma campainha que estava enterrada lá no fundo. Bodyboard? Ai é? Muita coisa tinha mudado naqueles 15 anos. Já tinha carro, dinheiro, e agora até tinha um "professor".

Entrei por uma loja adentro, a pior possível (pista: tem o nome de uma célebre região de ondas portuguesa) e de uma vez comprei todo o pior material possível. Mas estava feito.

De repente, estava em Peniche, onde o meu amigo tinha casa, e estava na água a realizar o meu sonho de puto.

Agora, preparo-me para varar o meu terceiro Inverno. Aprendi a fazer uns 360º manhosos e já consegui bater um par de vezes com categoria num lip. Ainda sou um bocado marrequeiro (ainda não passei de metro e meio em São João da Caparica) mas já sei que nunca mais vou largar "isto". Talvez daqui a uns anos tenha de aprender a surfar em longboard, mas as ondas, essas, nunca mais as vou largar.

Agora, daqui a umas horas, preparo-me para outra estreia: mais uma vez, pela mão do meu amigo vou surfar na Praia do Norte. Já lá estive um par de vezes como espectador, uma delas naquele épico Special Edition do ano passado. Amanhã, como marrequeiro que sou, espero fazer umas de metro e ficar feliz. Afinal, metro na Praia do Norte deve estar, esperemos, no meu limite...

Encontrei um pedaço da minha adolescência e estou cheio de vida, viciado no mar e neste fantástico desporto. E tudo graças ao meu amigo. Bendita a hora em que o puxei para o lado para lhe ensinar como se sobrevivia naquele pasquim. Em troca, ele deu-me um mundo e um irmão.

Enfim, lamechices à parte, desejem-me sorte para daqui a bocado. Afinal, vou escrever mais um capítulo desta história.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Centeno



Manuel Centeno não venceu no Lagido, mas o segundo lugar atrás de Hugo Pinheiro deixa-o bem colocado para manter o título europeu nas águas nacionais. Entre os próximos dias 21 e 23 de Novembro, em Tenerife, disputam-se as últimas ondas para encontrar o sucessor de Silvano Lourenço. Não é novidade que temos o bodyboard de melhor nível na Europa, mas é sempre bom continuar a coleccionar títulos. Ao Centeno basta-lhe chegar à final para trazer mais um título para Portugal. Um prémio justo para o mais profissional dos bodyboarders nacionais.

Nas senhoras correu tudo pior e a Rita Pires, acabadinha de chegar de uma surf trip ao México, não conseguiu a desejada vitória. Um vice-campeonato com um sabor amargo, mas em boa companhia. Foi a francesa Heloise Bourroux quem ficou com o currículo mais rico, mas fê-lo estando cercada por portuguesas. Catarina Sousa e Joana Schekner, ficaram, respectivamente, em 3º e 4º lugar e prometem mais luta para o ano.

Bons Tubos

domingo, 21 de setembro de 2008

Limites II

O meu companheiro de ondas e blogue veio discutir a minha opção pelo Mitch Rawlins quando se fala de gajos a explorar ondas novas e alargar os limites do surfável. Ok, sem mais palavras, deixo este documento.

PS: Podem usar vernáculo nos comentários :)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Limites

A propósito de uma conversa que tive neste espaço sobre diferentes abordagens ao bodyboard e a possibilidade que as nossas pranchas de espuma têm na exploração dos limites da onda em toda a sua tridimensionalidade (fora, dentro e acima) estive a pensar em alguns dos homens que transformaram o desporto "das rodinhas" como diz o meu companheiro de ondas e de blog, Cocas. Os nomes de Sean Virtue, Brendon Newton, Mike Stewart (claro) vieram-me à memória. E depois, lembrei-me de outro rapaz. Vejam lá se conhecem.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Surfar com os Metallica

Em 2004 a sorte grande saiu a Robert Trujillo. Não ganhou o Euromilhões, mas foi aceite numa banda onde lhe ofereceram 5 milhões de dólares só para se habituar à ideia de ser um dos membros dos Metallica.

Com Death Magnetic, o primeiro disco em que trabalhou desde o início, Trujillo falou à Rolling Stone. Como conseguiu ser chamado para a audição? No surf ...

in Rolling Stone

Rolling Stone: Do you know how you got on that list?
I'm not 100 percent sure. I think it was a combination of things. One was I toured with Metallica, with Suicidal Tendencies. That's where I originally met everybody. And less than a year prior to me receiving the call, a mutual friend of Kirk's called and said, "Kirk and I are coming down with some friends. Can you show us some surf spots around L.A.?" I thought that was neat: that Kirk, the vampire I knew, the nocturnal man, was ready to explore daylight and surfing in Southern California. He was in an RV with three friends. We spent a weekend hitting different spots.

Robert Trujillo: The whole thing, at least from what I understand, was they each had people they wanted to bring into the auditions. I became Kirk's guy. From my understanding, Lars wasn't aware of much that I had done. [In addition to playing with Suicidal Tendencies, Trujillo toured and recorded with Ozzy Osbourne and worked with Alice in Chains guitarist Jerry Cantrell.] I don't know where James' head was at.


(...)

RS: You joined at a tumultuous time.
RT: It was intense. I had to learn the catalog of music, 22 years of music. And I had to learn the St. Anger album. "We've never played this material as a band, but you've gotta learn it. And your first gig is going to be at San Quentin State Penitentiary." [Metallica filmed a video for St. Anger there.] It was almost like I lived at the studio then. The guys would leave at 11 PM, and I would be there until two or three in the morning, just trying to do the best I could.

It's like you're caught inside a massive set of waves. You get thrown, you're down under, and you come back up again and get thrown around some more. Now I feel I've come out and seen the light of Metallica. I feel more comfortable with the catalog. But I also feel more comfortable with the guys. We've grown together, connecting on tours past, knowing how each personality clicks. You gotta know how to balance each person, because they're so different.


A banda sonora para a próxima surfada a doer já está escolhida. Resta encontrar as ondas certas

The Day that never comes



Bons tubos

domingo, 14 de setembro de 2008

the greatest moment in alternative sports history

No Bodyboard a coroa está entregue. No trono para o maior de todos os tempos, está sentado Mike Stewart, o rei de Pipe. No surf, já há quem diga que está a ser levado ao colo até ao título, mas eu continuo a achar que Kelly Slater é mesmo o melhor de sempre. Michael Jordan, Michael Schumacher, Tiger Woods, Roger Federer, nos desportos de massas, também não se cansam de receber prémios.

Num desporto geneticamente marginal, há outro fenómeno: Tony Hawk. Cresceu com a modalidade e com o passar dos anos tornou-se o seu principal embaixador, a sua cara pelo mundo fora. Há quem salte a muralha da china e quem complete sequências inacreditáveis em street, mas no skate o trono também já está entregue. Fiquem com, nas palavras do jornalista do ESPN, "the greatest moment in alternative sports history"

Aerial 900º by Tony Hawk



Bons Tubos

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Nova época

Durante anos o bodyboard foi visto como o desporto das rodinhas e das ondas pequenas. Mike Stewart, Ben Severson, Eppo, Paul Roach e companhia tiveram de lutar para ganhar o respeito nas águas que até essa altura eram, quase exclusivamente, das pranchas de fibra. Para vencer o preconceito, os bodyboarders começaram a ser avaliados pela altura a que conseguiam elevar as polémicas tábuas. Se antes tinha sido Mike Stewart a conseguir um lugar nos dias de gala em Pipelinw e Ben Severson a passear no fundo dos tubos, a primeira época aérea do bodyboard foi dominada pelo aussie Eppo. Até chegarmos à epoca das bolhas impossíveis de surfar e dos saltos acrobáticos em pedregulhos australianos, foi um salto.

Nos últimos anos, os melhores bodyboarders tem ignorado a linha na onda. Até agora, salvo raras excepções, pouco se ligava ao estilo com que se surfava. Estamos a entrar numa nova fase. Há uns meses na Movement, o Ben Player avisou que tinha chegado a altura dos surfistas bípedes começarem a tentar saltos mais complicados e dos bodyboarders se começarem a preocupar com o estilo na onda. Meses depois, a Vert copiou a ideia para falar de Fluidez. Nessa altura, meti aqui um filme da NMD TV com o Ryan Hardy. Agora descobri outro. Um tal de Joe Clarke que além de ter uma linha anormal, ainda consegue provar que o bodyboard em ondas pequenas também funciona. Uma nova época?

Boom



Bons tubos

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A vitória do Underdog

Nos filmes de Boxe, há uma regra de ouro: o vencedor é sempre o pugilista mais fraco. A fúria do David contra o Golias, dos pequenos contra os grandes ou dos pobres contra os ricos, justifica as vitórias que deram milhões aos estúdios de cinema americanos, mas também os heróis da história do Mundo. Lutam contra o adversário e contra as probabilidades, mas vencem. Os Underdogs.

Guilherme Tâmega nunca foi estrela. Foi o primeiro a derrotar o tio Mike Stewart, dominou o campeonato durante anos a fio e até venceu três títulos mundiais, mas nunca conseguiu ser A vedeta. Não nasceu nas ilhas mágicas nem no continente de Shipstern's. A primeira vez que respirtou, estava no país mais violento da América do Sul. Favelas, miséria e umas marrequinhas do outro lado da estrada foram suficientes para o moleque se fazer bodyboarder. Hoje vive no Hawai, mas recusa sempre que os americanos lhe sugerem a troca de nacionalidade. Agora, os tempos em que nem tinha patrocinadores para correr o Mundial ou em andava nas guerras na IBA servem de motivação para este ano acrescentar mais um título ao currículo. Com o passar dos anos, Tâmega tinha passado de campeão a ignorado, mas este ano regressou como Underdog. Com ele, traz uma prancha com um slick que provocou gargalhadas e vontade de conseguir a sua maior vitória.


GT




Bons Tubos