sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A história e o poema

Quer parecer-me que o batráquio mais novo está a preparar um golpe de Sapo. Levado pela mão do batráquio residente para as primeiras aventuras aquáticas, eis que o girino lhe toma o gosto. Não leva muito tempo a que se transforme em sapo jovem, de ambição desmedida e de olho gordo no rei da poça. O sapo velho, acometido de lesões nos membros inferiores, indispensáveis para saltar e que tanto gosta de agitar quando salta numa onda, olha desconfiado para o jovem. Sentado na sua folha, espera há anos que uma princesa apareça e, com um beijo, o salve para sempre.

Só que nada acontece. Um dia, contudo, a tal princesa aparece, prometendo-lhe não um beijo, mas uma prancha. O batráquio novo nem sonha com a traição, mas o sapo velho vê ali a derradeira hipótese de fintar o destino (mesmo estando aleijado). Já se imagina coberto de glória, longe da poça e, acima de tudo, de pé em cima de uma prancha. Mas, Ò Destino Cruel, a princesa, assustada com o entusiasmo do sapo, assusta-se e desaparece, levando com ela a prancha e o bilhete para uma vida melhor. O sapo velho chora e as suas lágrimas enchem um pouco mais a poça.

Nessa tarde, já com o coração destroçado, o batráquio velho nem sonha com o golpe que está para vir. O sapito mais novo, aproveitando a ausência do seu senhor, lançou-se ao lago, cheio de garra, e alguém registou as suas façanhas. Com as fotos na mão, correu a mostrá-las ao mestre. E o mestre, mal disfarçando a raiva, elogiou-o e garantiu que iria publicá-las no pasquim do lago, para que todos os sapinhos, e as pessoas também, as pudessem contemplar. Mentiroso, porque publicou apenas uma. Mas antes, o sapo velho decidiu destilar o veneno que lhe corre nas veias, atacando alguns bravos homens que se fizeram ao mar no último fim-de-semana, a Sul de Lisboa. Acredito que, visto da poça, tudo pareça tranquilo. O sapo velho também sabe que sim e, para se redimir, tentou anunciar a lista de bravos homens que vão enfrentar, assim Neptuno o entenda, as montanhas de água no Havai.

Para o sapo velho e para o sapito mais novo, encontrei este poema. Espero que gostem.

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